Reportagem: "A vida dos apostadores profissionais".
Programa Sexta às 9, na RTP1 dia 16 de Novembro de 2012, por Sandra Felgueiras.
Entrevistados:
- Paulo Rebelo - Apostador Profissional
- Pedro - Apostador Profissional
- João Nunes - Jogador de Poker Profissional
- Henrique Pinho - Jogador de Poker Profissional
- Tiago Caiado Guerreiro - Advogado Fiscalista
Introdução:
Foram-me feitos pedidos para participar nas duas últimas reportagens de igual forma que me fizeram para participar em todas as outras anteriores, argumentando que gostariam de contar a minha experiência de vida enquanto apostador profissional.
Tal como em todas as anteriores, apenas vi a reportagem ao mesmo tempo que todos os demais espectadores, no entanto, desagradou-me ver o resultado final de ambas, onde, do meu ponto de vista, foi dado um enfoque errado, e onde julgo que não saiu valorizada a imagem dos apostadores em geral.
Foram cometidas falhas jornalísticas graves ao induzir claramente os espectadores em erro através de afirmações falsas ou omissões de informação com claro prejuízo para a imagem dos apostadores.
De uma forma geral, esta reportagem transmite a ideia de que há apostadores que ganham, mas que a maioria perde e (simultaneamente) endivida-se, sendo pois o jogo um flagelo a combater.
Combater o vício do jogo
Sendo coerente com o que digo desde sempre, julgo que, as pessoas que são viciadas no jogo devem ser ajudas e tratadas. Mais, deve haver um esforço de deteção e prevenção de comportamentos desviantes.
No entanto, tal não implica combater o jogo em si, e a maioria dos jogadores que utiliza o jogo de forma saudável que retiram do mesmo prazer e, os melhores, recompensa financeira.
De igual forma que, pelo facto de uma minoria de pessoas da sociedade serem compradores compulsivos, não se decreta os centros comerciais como um flagelo de toda a nação.
Ideia errada: ganhar com as apostas é fácil
É um facto que os critérios jornalísticos usados nas reportagens em que participei podem transmitir a ideia que ganhar com as apostas é fácil e que está ao alcance de qualquer um.
Lamento. Lamento não ser verdade, e lamento esta ideia ser passada nas peças jornalísticas.
No entanto, deixo claro que não tenho qualquer intervenção na edição das reportagens e que apenas vejo o resultado final no próprio dia da emissão, tal como todos os demais espectadores.
Em todas as reportagens que concedo explico que, ganhar dinheiro de forma consistente com as apostas não está ao alcance de qualquer um, e que, tal como acontece com os jogadores de futebol, não basta querer ser, é preciso adquirir as competências necessárias e ter nascido com as qualidades inatas.
Por isso, aconselho todos aqueles que se quiserem iniciar nas apostas a começarem com pouco dinheiro, e apenas a aumentarem o valor das apostas quando e se os resultados positivos aparecerem de forma consistente.
Tenho a consciência tranquila em relação a esta matéria. Não posso controlar as reportagens, mas no que depende de mim, faço questão que esta informação passe. Por isso, quem acompanha o meu trabalho, é “bombardeado” com este aviso, desenvolvido em várias conselhos, no meu site, nas redes sociais que intervenho, no meu livro, nas sessões de esclarecimento que ofereço, nos meetings que organizo, nos workshops em que sou convidado, nas aulas que leciono, nos vídeos que gravo, e vários encontros da comunidade.
O enfoque desta reportagem foi dado no facto de nós, apostadores, não pagarmos impostos diretos fruto do rendimento obtido através das apostas que ganhamos. Para o comum dos portugueses, e sobretudo agora, que lhe são exigidos sacrifícios extraordinários, revolta, obviamente, ver alguém que não paga impostos e que está feliz na vida.
Não concordo, de todo, com a opção jornalística de omitir as justificações dadas em relação a esta matéria, o que originou que tenham sido dadas informações falsas e tenham sido induzido em erro os espectadores.
Por exemplo: Frases como “o Paulo Rebelo ganhou um salário mínimo durante esta reportagem” são falsas.
O Paulo Rebelo ganhou 40% de um salário mínimo em Portugal porque 60% dos ganhos são retidos na fonte para pagar os custos do sistema e os impostos extraordinários que as casas de apostas sediadas aqui (UK) têm que pagar para que os apostadores não paguem diretamente impostos sobre o jogo.
No Reino Unido, onde a atividade está regulada, os apostadores pagam, obviamente, os impostos decorrentes da sua atividade. Porém o legislador entendeu ser melhor que o façam de forma indireta, aplicando um imposto extraordinário às casas de apostas que o repercutem aos apostadores, quer através de taxas, no caso das bolsas de apostas (que podem chegar, como no meu caso, a 60%), ou através de uma redução dos prémios a receber (odds mais baixas) no caso das casas de apostas tradicionais (modelo este que é defendido pelo ANAon para ser aplicado em Portugal).
Do meu ponto de vista, teria todo o interesse para a reportagem, ponderar se as taxas pagas pelos apostadores residentes em Portugal deveriam refletir-se no orçamento de estado Português através de uma iminente regulamentação, ou, como até agora, refletir-se no orçamento de estado do país onde está sediada a casa de apostas (aproveito para referir que foi explicada por mim esta situação à jornalista). O que não pode ser feito, é ignorar de todo, as taxas pagas pelos apostadores.
Consideração final:
Não sendo condenável do ponto de vista jornalístico (são opções editoriais que respeito), gostaria de fazer a seguinte consideração:
Quer numa reportagem, quer noutra, tive o cuidado de preparar os jogos em que ia entrar e fiz questão de explicar detalhadamente, antes do jogo começar, o que previa que fosse acontecer, e como poderíamos tirar partido da leitura que fizera do jogo. Ambas leituras e táticas de abordagem ao jogo revelaram-se certeiras, e por isso ganhei em ambos jogos.
Lamento que nenhuma das reportagens tenha mostrado este registo. Seria pedagógico para a comunidade de apostadores atual. E, sobretudo, faria com que não fosse transmitida a ideia, para espectadores que ainda não são apostadores, que ganhar com as apostas é fácil, pois iriam perceber que as leituras feitas ao jogo exigem trabalho e experiência assim como as táticas utilizadas requerem competências técnicas. .
Próxima entrevista
Entendam que as duas últimas reportagens são prejudicais porque utilizaram informações falsas e omissões graves, e contra isso, nada podemos fazer. Fá-lo-iam quer participasse, ou não, no programa e creio que não ter participado seria pior pois pareceria que tenho algo a esconder.
Precisamente por não ter nada a esconder, não vou mentir em relação aos números, nem vou dizer que a minha vida é um inferno, nem vou alugar um Fiat Punto para aparecer na reportagem. Primeiro porque a minha palavra vale muito e segundo porque já é do conhecimento público.
Posso adiantar-vos que aceitei o convite para participar no “5 para a meia-noite”. Durante a próxima semana vai-me ser completamente impossível, mas vou tentar ir aí a Portugal semana seguinte. Neste programa, vou fazer os possíveis para corrigir a ideia errónea com que alguns espectadores podem ter ficado após terem sido induzidos em erro pelas últimas “reportagens”.
Mais concretamente, que ganhar com as apostas é fácil e que nós não pagamos impostos. Espero ter também ter a oportunidade de introduzir a posição da ANAon sobre o modelo tributário a adotar para Portugal (ainda que brevemente porque entendo que não será o espírito deste programa). Percebi que é uma preocupação da comunidade frisar que nem todos os apostadores ganham muito dinheiro, e que por isso, não será justo uma taxa elevada. A vossa preocupação irá ser tida em conta, e irei passar a mensagem.
Aviso-vos no entanto que imagino que me perguntem as mesmas coisas de sempre (quanto ganha, o Ferrari, etc.) porque isso é notícia, e cada programa quer ter a notícia no seu espaço. Entendam que eu não busco isso. Porém também não tenho necessidade de esconder. Ainda assim procurarei, como prometido, encaixar a minha mensagem.