Isto não tem nada a ver com futebol, mas como também costumo fazer alguns jogos de ténis, não pude deixar de reparar na odd que está para a final de hoje em Roland-Garros.
Acho que o Nadal vai ganhar? Acho!
Acho que é de valor apostar contra o Nadal @ 1.31? Acho!
Neste momento o mercado está a atribuir uma probabilidade de ~76% à vitória do Nadal e de ~24% a uma vitória do Djokovic, o que quer dizer que em 20 jogos nestas condições, o Nadal ganharia uns 15 e o Djoko uns 5 jogos. Julgo que este valor não é justo, pelo que se apostássemos sempre contra o Nadal a estas odds, teríamos um Valor Esperado Positivo. Sobre este tópico, aconselho a lerem a explicação que o Paulo dá no livro ou então na 1ª aula do curso.
Deste modo, apesar de acreditar numa vitória do Nadal, acho que estas odds não reflectem o equilíbrio que poderá haver num determinado momento do jogo. Por isso, a minha aposta será entrar com um lay ao Nadal e fechar assim que as odds ajustem.
Ténis
10/06/2012 - 08:01 - Updated 10/06/2012 - 09:05
Grand ou Anti-Slam?
A edição 111 de Roland Garros fica concluída com uma final de sonho: defrontam-se os dois melhores da actualidade e qualquer desfecho é um recorde. Novak Djokovic pode rubricar um Grand Slam; Rafael Nadal pode chegar ao hepta na terra batida parisiense – mas se perder conseguirá um Anti-Slam.
À partida para a 111ª edição de Roland Garros, havia dois preponderantes vectores associados ao sector masculino e que se prendiam com recordes ao alcance de Novak Djokovic e Rafael Nadal – a qualificação de ambos para a final faz com que a decisão do título tenha um peso histórico redobrado e capture a imaginação do planeta: mesmo em fase de arranque do Europeu de futebol, a cimeira parisiense entre os melhores tenistas da actualidade afigura-se imperdível.
Haverá muito em jogo – antes de tudo, um título do Grand Slam diante de um enorme rival. E após meia década em que a rivalidade entre Roger Federer e Rafael Nadal foi consagrada como a melhor do mundo desportivo, a rivalidade entre Rafa e Nole já atingiu os píncaros e ultrapassou mesmo a anterior em vários departamentos estatísticos. A final de Roland Garros é, antes de tudo o mais, um mano-a-mano com um inimigo desportivo que tem por pano de fundo um título do Grand Slam com muito orgulho em jogo. Depois é que vem a catadupa de marcos históricos em compita. E o cheque de 1,25 milhões de Euros para o vencedor até acaba por ser a recompensa que menos interessa aos dois multimilionários campeões.
SEQUÊNCIA INÉDITAO espanhol já ganhou o evento em seis ocasiões (2005 a 2008; 2010-11) e está a par do lendário Bjorn Borg; uma sétima Taça dos Mosqueteiros em Roland Garros confirmá-lo-ia ainda mais como o melhor tenista de todos os tempos nas superfícies ocres e colocá-lo-ia empatado com o mesmo Bjorn Borg e ainda Rod Laver no total de 11 títulos do Grand Slam. O sérvio tem-se assumido como o melhor tenista mundial desde o início de 2011 e ergueu o troféu em quatro dos últimos cinco torneios do Grand Slam, sendo a excepção Roland Garros de há um ano na sequência de uma tremenda meia-final com Roger Federer que foi vingada na quarta-feira; está pela primeira vez na final e não só poderá conseguir um Grand Slam de carreira como também um Grand Slam a cavalo entre 2011 e 2012 – e desde Rod Laver, 1969, que ninguém logrou tal feito.
Há ainda a salientar um pormaior que não tem sido devidamente relevado: Don Budge (1938) e Rod Laver (1962 e 1969) ganharam os quatro torneios do Grand Slam consecutivos em apenas duas superfícies porque na altura também o US Open e o Open da Austrália se jogavam em relva; Novak Djokovic seria o primeiro de sempre a deter em simultâneo os quatro troféus maiores mas em três pisos distintos (hardcourts, relva, terra batida). Antes dele, outros enormes campeões falharam a cartada final para o poker perfeito: Pete Sampras (não passou dos quartos-de-final em 1994) e Roger Federer (perdeu as finais de 2006, 2007, 2008) desaproveitaram a hipótese de somar esse quarto título consecutivo precisamente em Roland Garros, enquanto Rafael Nadal desperdiçou igual ensejo no Open da Austrália (perdeu nos quartos-de-final em 2011).
SLAM E ANTI-SLAM
O que já está assegurado de antemão é um Grand Slam de finais entre o sérvio e o espanhol: nunca antes os mesmos dois jogadores se defrontaram nas quatro diferentes finais dos torneios do Grand Slam na Era Open, quanto mais consecutivas. Nem mesmo Roger Federer e Rafael Nadal, que – apesar de match-points do suíço nas meias-finais em 2010 e 2011 – nunca se defrontaram no derradeiro encontro do US Open.
Como Novak ganhou as três anteriores, se Rafael perder uma quarta final consecutiva completará um pouco lisonjeiro Anti-Slam perante o já apelidado ‘Nole Slam’. Mas a cimeira de Roland Garros apresenta um cenário bem distinto em comparação com a de Wimbledon e do US Open de 2011 ou a do Open da Austrália do início deste ano: nessas ocasiões, o sérvio vinha de uma série de vitórias sobre o espanhol e cimentou esse ascendente; nesta ocasião, o espanhol ganhou as duas últimas finais diante do sérvio e parece estar a jogar melhor do que nunca – enquanto o seu rival tem estado algo longe do seu melhor.
FIO CONDUTORTendo quebrado a tal série de sete finais – quatro Masters 1000 e três Grand Slams – perdidas consecutivamente para Djokovic ao impor-se na decisão dos recentes Masters 1000 em terra batida de Monte-Carlo e Roma, Nadal ganhou ainda mais confiança e foi recompensado pelas alterações técnico-tácticas (atacar mais cedo, redireccionar melhor a bola com a esquerda, aguentar as bolas profundas para a sua direita) e de material (raqueta com a cabeça mais pesada) que já o tinham deixado muito perto da vitória na titânica final do Open da Austrália, em Janeiro. E se a lendária motivação e intensidade exibicional do espanhol lhe permitem jogar frequentemente perto dos seus limites, o sérvio apresenta actualmente um enquadramento psicológico que não o deixa tão motivado em torneios menores e diante de adversários menos cotados mas que o incita sobretudo perante Federer ou Nadal nos torneios do Grand Slam.
A motivação estará ao máximo tanto para Nadal como para Djokovic. Fisicamente, são dois portentos que esticaram os limites atléticos da modalidade até níveis impensáveis – primeiro na final do US Open, depois nas seis horas da final do Open da Austrália. Tecnicamente, Djokovic ganhou todas aquelas finais consecutivas não só por conseguir jogar mais dentro do court como também com trajectórias de bola frequentemente mais profundas e respostas acutilantes. Mas Federer considera Nadal claro favorito para a final e o espanhol não só não perdeu qualquer set na terra batida de cor ocre este ano como na presente edição de Roland Garros só cedeu um único jogo de serviço, enquanto Djokovic teve de recuperar de dois sets a zero face a Andreas Seppi e anular quatro match-points perante Jo-Wilfried Tsonga.
O PAPEL DA PRESSÃODjokovic tem a pressão de estar a um encontro de completar o Grand Slam e da urgência de aproveitar uma circunstância rara que pode não mais repetir-se, mas também sabe que o espanhol é favorito para a grande maioria dos analistas e isso talvez o faça jogar mais solto. Já Nadal apresenta sempre aquele seu perfil psicológico único de partir para os encontros simultaneamente como favorito e underdog, mas terá forçosamente de sentir que não pode completar um Anti-Slam com um novo desaire diante do sérvio; o facto de baixar do segundo para o terceiro lugar no ranking em caso de derrota será irrelevante para ele.
Quem irá gerir melhor a situação? O meio ambiente poderá ser o elemento desequilibrador. Djokovic precisou de seis horas para bater Nadal na última ocasião e em hardcourts; quantas mais serão necessárias para o fazer no pó-de-tijolo? No habitat natural de Rafa, quanto mais o encontro se estender melhor é para ele – pelo que Nole terá de tentar ganhar ainda mais rapidamente do que em qualquer outra superfície, à semelhança do que logrou fazer nas finais de Madrid e Roma em 2011 (não cedeu qualquer set). Por isso, o primeiro set afigura-se crucial: Djokovic tem um registo de 11-3 a seu favor quando ganha o primeiro set ao espanhol (2-1 em terra batida); Nadal tem um registo de 16-3 após impor-se ao sérvio no primeiro set (10-0 no pó-de-tijolo). No total, o mano-a-mano é favorável a Rafa por 18-14; Nole ganhou sete consecutivos nos últimos nove, mas perdeu os dois derradeiros.
FERRAMENTAS DE SUCESSOO sentido posicional no court é sempre muito importante nos embates entre ambos; Djokovic, que tem pancadas de direita e esquerda de qualidade mais aproximada, joga mais em cima da linha de fundo e tem sido especialista em fixar Nadal no lado da sua pancada de esquerda (lado direito, já que é esquerdino) com direitas cruzadas ou esquerdas paralelas para depois atacar em profundidade para o flanco deixado em aberto do lado oposto. Mas Rafa tem estado a bater muito bem a esquerda e é excelente no recuperar de posição para passar a mandar com a sua direita, sobretudo porque a terra batida lhe dá mais tempo para o fazer. Para mais, não está a jogar tão atrás da linha de fundo e tem hesitado menos do que o rival em fazer rápidas transições para vir concluir os pontos à rede.
O espanhol também se tem desgastado muito menos do que o sérvio ao longo do torneio; de qualquer modo, podem fazer-se todas as conjecturas técnicas e análises tácticas que o momento até pode determinar uma circunstância completamente diferente que anula todos os vaticínios. O melhor é mesmo acompanhar ao vivo a emissão do Eurosport para constatar o que se vai passar – espera-se é que a meteorologia seja mais clemente do que as previsões e que a chuva não faça transbordar a final para a segunda-feira pela primeira vez desde 1973…
Para terminar, um repto aos leitores para resposta no post alusivo à final na página Facebook e que tem a ver com os abusos de tempo de ambos os jogadores: quantas vezes Nadal irá ultrapassar os 20 segundos regulamentares entre pontos no seu serviço? Quantas vezes irá bater Djokovic a bola no solo nos momentos de maior tensão? Quantas vezes terá o árbitro coragem de sancionar esses abusos com uma advertência e/ou ponto de penalidade?
Por Miguel Seabra,
O comentador Eurosport e editor do Jornal do Ténis escreve orgulhosamente de acordo com a antiga ortografia
Ler mais
